Programa contra  roubo de celular  ainda não impacta valor do seguro

Programa contra roubo de celular ainda não impacta valor do seguro

Iniciativa do Governo Federal, ‘Celular Seguro’ completa seis meses com 60 mil aparelhos cadastrados, número baixo diante do universo de usuários e longe de impactar as apólices.

Por: Claudio Henrique

Os cachorros, dá para imaginar, devem ter sofrido bastante; mas acredita-se que já estejam conformados: o melhor amigo do homem (e da mulher) agora é o celular. Sempre ao seu lado! A pessoa acorda e passa logo a mão no ‘bichinho’, levando-o pelo resto do dia em uma coleira imaginária. O problema é que os aparelhos não mordem (pelo menos até aqui, que se saiba) e são facilmente surrupiados pela turma do mal.

 

O volume de ocorrências — estimado em 1,68 mil celulares roubados ou furtados por hora no país – gerou não apenas o crescimento dessa modalidade de seguros como fez o Governo Federal a desenvolver e lançar, em dezembro do ano passado, o programa ‘Celular Seguro’, que disponibiliza plataformas — site e aplicativos para Android e iOS — em que os usuários podem bloquear rapidamente seus aparelhos, linhas telefônicas e aplicativos bancários em caso de roubo ou furto.

 

A iniciativa está completando seis meses com a marca de 60 mil bloqueios referentes a esses tipos de perda. Mais precisamente 60.831, em contagem até primeiro de julho deste ano. O mesmo levantamento apontava 2,106 milhões de usuários registrados — um número bem baixo comparado aos 260,1 milhões de telefones celulares (1,2 aparelhos por habitante) nas mãos da população brasileira, segundo dados de junho.

 

“A iniciativa do Governo é extremamente importante por contribuir para a proteção do usuário de celular, mas, proporcionalmente, a adesão ainda é baixa. Os 60 mil celulares bloqueados, ainda que seja um dado positivo, são insuficientes para impactar a precificação do seguro”, avalia Sidemar Spricigo, membro da Comissão de Seguros Gerais e Afinidades da FenSeg.

 

Para o preço da apólice ser impactado, segundo Spricigo, é preciso a combinação de dois fatores: menor exposição ao risco, no que o programa do Governo pode contribuir à medida que seu alcance ganhar escala, e o aumento substancial do número de aparelhos segurados em todo o País.

 

Existem hoje cerca de dez milhões de aparelhos celulares com cobertura de seguros no Brasil (dados de 2022) – aproximadamente 4% do total. Os dados são FenSeg). O seguro de celular custa, em média, 20% a 25% do valor do aparelho, gerando uma arrecadação total que chega a R$ 2,5 bilhões ao ano no País.

 

Cerca de um milhão dos segurados acionam o seguro anualmente para receber a indenização por algum sinistro. O que representa R$ 1 bilhão pago pelas seguradoras a seus clientes por ano, em média. A sinistralidade varia em torno de 40% do volume de arrecadação em prêmio.

 

ESPAÇO PARA CRESCER

Já os números de registros policiais sobre celulares no País são bem mais encorpados e um sinal do quanto o mercado de seguros ainda tem a crescer neste segmento. O instituto de pesquisa Datafolha divulgou que quase 10% dos brasileiros tiveram seus aparelhos roubados ou furtados em 2023 – foram 937.294 ocorrências de roubo e furto de celular em delegacias do País, algo como dois aparelhos por minuto. Estima-se, portanto, que 14,7 milhões de brasileiros foram vítimas desse crime no ano passado.

 

Uma análise sobre os dados de adesão ao ‘Celular Seguro’ sugere que o programa ainda não é de conhecimento da população, tendo nitidamente registrado um crescimento inicial, por conta da mídia sobre o lançamento. Em 23 de dezembro, três dias após o anúncio, o programa já alinhava 500 mil registros na plataforma; em primeiro de janeiro, menos de duas semanas depois, havia um milhão de usuários cadastrados.

 

Está previsto o lançamento de novas funcionalidades do programa ainda neste segundo semestre. Entre elas, a possibilidade de a vítima bloquear chip e aplicativos financeiros, ao emitir o alerta, mas manter o aparelho funcionando. Assim, se um novo chip for instalado, uma mensagem aparecerá na tela orientando o novo comprador do telefone a ir a uma delegacia e apresentar a nota fiscal de compra.

 

Outra ideia é incorporar à ferramenta a lista de Identificação Internacional de Equipamento Móvel (Imei), o ‘RG’ de cada aparelho celular, permitindo a consulta de quem for comprar um aparelho usado, para conferir se o aparelho tem alguma restrição ou registro de roubo ou furto.

 

EXEMPLO DO PIAUÍ

Outra iniciativa bem-sucedida nasceu no Piauí e atingiu bons resultados monitorando os chamados ‘receptadores’. Quando linhas são registradas em aparelhos que têm anotações de furto ou roubo, os proprietários são intimados via WhatsApp a comparecer à delegacia para esclarecimentos. Caso não apresentem a nota fiscal, são obrigados a entregar os aparelhos às autoridades, para que sejam devolvidos aos verdadeiros donos.

 

Desde a adoção desses procedimentos, em 2023, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí registrou redução de aproximadamente 50% nos roubos e furtos de celulares na capital, Teresina. Em seis meses, oito mil celulares foram devolvidos aos proprietários.

 

O ‘Celular Seguro’ foi desenvolvido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) em parceria com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O acesso é feito por meio do cadastro no site Gov.br, a plataforma de serviços do Governo Federal.

 

Os aparelhos podem ser registrados via site (celularseguro.mj.gov.br) ou aplicativo, disponíveis na Play Store (Android) e na App Store (iOS). As empresas que já aderiram ao programa estão descritas nos termos de uso. Não há limite para o cadastro de números, mas eles precisam estar vinculados ao CPF do titular da linha. Quem se cadastra pode indicar pessoas da sua confiança que estarão autorizadas a efetuar os bloqueios. Os números mais recentes apontam 1.484.626 pessoas de confiança registradas. Como se vê, há muito a divulgar.